Os debates por fazer
Com o dia 20 aí à porta todos nós sentimos, com maior ou menor intensidade, que mais uma vez o debate ficou por fazer.
Foram tantas as perguntas que ficaram sem resposta...
Será que a demagogia compensa?
Convite
... ... ...
Os temas de conversa surgirão, naturalmente, por proposta dos participantes, e manter-se-ão em debate enquanto eles nisso
manifestarem interesse.
Obviamente que não reservo para mim qualquer direito, de propriedade intelectual ou outro; apenas manterei, por razões de
operacionalidade, o cargo de “fiel de armazém”, e, claro, terei todo o gosto em pagar as bicas!
Boavida
2005/02/06
Novo tema ...Constituição Europeia. O Sim, O Não e os porquês.
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4 Contributo(s)
Os debates que ficam por fazer
Um tema deveras interessante. Como tantos outros reflecte, em cada interveniente, a ideia (quase imberbe, subjectiva) de que existem as soluções, existe outra forma de abordar a realidade, de actuar sobre a realidade, capaz de mobilizar consciências e vontades, capaz de nos tirar do atoleiro.
A frustração vem quando se concretiza a ideia que cada um tem do que são as falhas, do como e onde se falha, do que tem de mudar (e como) para que tudo isto mude. Ao nível da teorização abstracta estamos todos de acordo; ao nível da concretização, das atitudes e das tarefas, da responsabilização, surgem as divergências insanáveis; provenientes duma lógica absurda e disparatada, da mais perfeita mistificação e demagogia, que nos têm sido incutidas, no dia a dia, como sendo a essência da própria democracia e que são, isso sim, a total inversão da democracia.
Não deixa de ser curioso que o “contributo” anterior apele “à alteração da metodologia das entrevistas, com jornalistas especialistas”, como se a tecnocracia, em vez da partidocracia; como se a especialistocracia, em vez da democracia, resolvesse os nossos problemas.
Tudo isto resulta, principalmente, de dois “embustes” a desmistificar:
(1) A forte sensação que cada um de nós tem de que as nossas ideias nunca são consideradas; o que nos leva a achar que, se fossemos ouvidos, como somos pessoas bem intencionadas, talvez os problemas se resolvessem, mesmo assim, tal e qual as coisas funcionam agora, sem mudar nada; (acho que ainda não sei, e até talvez nunca venha a saber, se não foi essa presunção que traiu Santana Lopes. Quando ele tomou posse como primeiro ministro, eu já sabia que iria acabar assim e não tenho, nem preciso, de artes de adivinhação).
(2) A assimilação daquelas ideias falsas e perversas de que, mesmo que a democracia não funcione, quando se trata de respeitar a vontade da maioria das pessoas, ela deve “funcionar”, em matéria de atribuição de culpas. A vontade da maioria da população não interessa para nada, o que nos convém são as patifarias que os políticos praticam, abusivamente, em nosso nome, sem quererem saber do que pensamos sobre o assunto; porque isto é uma democracia representativa, onde eles ganham o direito de representatividade, mesmo que, nos seus actos, não representem ninguém. Porém, quando se trata de atribuição de culpas, a culpa é dos outros. Uns quaisquer outros, não importa; contanto que os culpados nunca sejam identificáveis, porque isso é anti-democrático; contanto que nunca exista um conjunto de pessoas ou actos, ou atitudes, ou procedimentos, que possam ser identificados como culpados, a não ser em abstracto. Tudo no abstracto, para que, no concreto, possa ficar tudo na mesma e continuar a piorar. São os malfadados “inimigos sem rosto” e as malditas entidades abstractas que são destinatárias de todas as culpas e apelos, para encobrirem os verdadeiros culpados, para servirem de capote a toda a espécie de patifes e seus crimes.
Esta técnica de transferência de culpas, assente nesta abstracção absoluta, nesta espécie de sublimação de nossa entidade colectiva, onde se concentram o pior e o melhor do que há em nós; no primeiro caso para arcar com todas as culpas, no segundo caso para “ouvir e ignorar” os apelos de todas as boas intenções (até daquelas de que o inferno está cheio) e sobretudo as dos hipócritas que fazem apelos patéticos e patetas, em vez de cumprirem as suas funções e exercerem as suas competências, tem sido o expoente máximo da nossa hipocrisia social, que serve de base ao pilar da iniquidade do sistema que temos, com que se pretende a sua perpetuação.
Portanto, como a gente odeia tanta tacanhez e hipocrisia, concretizemos:
(1) Concordo que o debate eleitoral tem sido um fiasco. Que nenhuma das forças políticas concorrentes disse nada de novo. Que todos dizem e repetem as mesmas generalidades; até mesmo os mais críticos. Ou seja: nada, nesta campanha, tem consistência para mobilizar, positivamente, os cidadãos. Pior do que issso! Os principais protagonistas não se coíbem de, cada um a seu modo, manterem nos seus discursos, o apelo ao primarismo, ao bairrismo obtuso, ao sectarismo vesgo, fazendo críticas, aos outros candidatos que não passam de perfeita e absoluta maledicência, quantas vezes sem qualquer fundamento que não seja a distorção da realidade ou do seu significado. É o baixo nível deles a querer impor-se-nos.
(2) Porém, há que ser realista. Na situação em que nos encontramos, perdidos, desenganados e sem esperança, não são os discursos pré-eleitorais que vão mobilizar quem quer que seja. Não é possível mobilizar as pessoas, prometendo-lhes o céu (mesmo que ele esteja ali, ao alcance da mão, como eu acho que está), depois de as ter enganado e ultrajado tantas e tantas vezes.
(3) No entanto, confesso que até eu (que não acredito nada em políticos), mantenho sempre uma aguda atenção a tudo quanto dizem, para ver quando é que aparece alguém a dizer alguma coisa de jeito; a dizer alguma coisa que eu identifique como a via de solução dos nossos problemas. Garanto que, se eu ouvisse, seria capaz de identificar. Portanto, talvez seja esta mesma ansiedade que faz com que as pessoas dêem atenção aos debates.
(4) Tudo isto para concluir que é pequeno o número de pessoas que seriam mobilizáveis pelo discurso correcto. A maioria está de tal maneira atolada em problemas e desenganos que não acredita em nada.
Há um longo caminho a percorrer (que está cada vez mais longo) na recuperação da esperança perdida, da confiança atraiçoada, da justiça ultrajada.
Isso tudo só é possível fazer, fazendo. Não são coisas que se prometam em campanha, quando nas actuações do dia a dia se faz, e consente que se faça, exactamente o contrário.
Dou apenas dois exemplos (importantíssimos, a meu ver): A Reforma da Administração Pública e o funcionamento da Justiça.
São dois exemplos de casos em que se prometem grandes medidas (para que sejam impossíveis de implementar), mas onde as práticas obtusas, criminosas, destruidoras, infames, se mantêm, sem que ninguém levante um dedo. Num caso como noutro, a resolução dosa casos concretos, denunciados todos os dias pelos cidadãos, teriam um efeito extraordinário, mobilizador, benéfico, que poderia ajudar-nos a avançar, a “velocidade cruzeiro”, económica e socialmente. Num caso como noutro, a resolução de cada situação concreta, acabaria por apagar as más práticas e os seus efeitos, resultando numa “reforma” integral, onde, ao invés de ser necessário investir muito dinheiro, se pouparia muito dinheiro.
Há não muito tempo, esperei mais de duas horas, em duas ocasiões diferentes, numa repartição pública de Lisboa, apenas para requerer uma certidão. Numa dessa ocasiões, o papel até se destinava a outra instituição pública. Quando, pela mesma altura, necessitei de proceder ao registo duma casa, deparei-me com tamanho agravamento da burocracia, deslocações e perda de tempo, que nem quis acreditar. Tudo inútil, posso garantir-vos; tudo escusado, tudo a contribuir para a redução da nossa produtividade. Tudo situações bem conhecidas, onde há que actuar urgentemente, donde resultam enormes economias de tempo e de gastos.
Há uma coisa que eu faria, sem qualquer problema de consciência: proibir que qualquer cidadão esperasse mais de 20 minutos, em qualquer local de atendimento público, fosse a que título fosse. A violação da regra daria origem a despedimento, com perda de regalias sociais entretanto adquiridas. Iriam ver como os procedimentos se simplificavam, como a informatização funcionava, como tudo começava a funcionar melhor.
Mas não é necessário tanto; basta ouvir os cidadãos e resolver os problemas concretos que apresentam.
Na justiça passa-se a mesma coisa: Já falei de vários casos escabrosos e muitos outros tenho em mãos, alguns que nem sei como lhes hei-de pegar. Em todos estes casos, a justiça funciona para molestar pessoas honestas, a “pedido” de criminosos. Agora, neste país, a forma mais eficiente de criminalidade é aquela que usa as instâncias judiciais. É uma maravilha, garante total impunidade e eficiência. Aparece de tudo: desde a vigarice e extorsão, praticadas pelos tribunais, a favor de vigaristas e criminosos (tenho alguns 4 exemplos nas minhas mãos, documentados), passando pelo exemplo do processo Casa Pia, do Dr. LJNS, do caso da Joana. Se estes problemas fossem resolvidos como devem, poupava-se muito dinheiro ao estado. E como ficava “em cima” a nossa auto estima e a nossa confiança na vida e na sociedade; como a democracia revigorava. Mas não. Neste país o que impera é a covardia e o embuste, o sofisma e a desresponsabilização, de quem tem de denunciar ou combater o crime, de quem necessita de o fazer para nos governar decentemente, de quem nos deve governar. Nestas coisas somos todos espectadores, nós e os governantes, os responsáveis da sociedade. Nada disto nos diz respeito. São problemas dos outros. Depois desesperamos porque os nossos problemas colectivos se agravam continuamente.
Portanto, para mim é assim: quem se propõe governar o país, tem de ser responsabilizado pelo êxito ou fracasso da sua actuação. O actual modelo de representatividade parlamentar, não garante a eficiência do sistema, nem a prática da democracia, uma vez que cada um diz o que quer e ninguém tem de provar coisa nenhuma. Por isso eu proponho que seja referendada a alteração do actual sistema de representatividade, que deve passar a incluir a valoração da abstenção. Acho mesmo que qualquer partido que, de facto, pugne pela democracia e queira resolver os problemas do povo terá que reconhecer que não é possível fazê-lo sem a mobilização da maioria da população e sem a consequente valoração da abstenção. Para saber se um partido é realmente democrático e está de boa fé, na resolução dos problemas do país, basta saber se defende a valoração da abstenção, ou não. Os partidos que não percebem isso são tão reaccionários como os mais reaccionários. Apenas lhes interessa serem eles a beneficiar do poder, dos lugares no parlamento, nada mais.
Eis um tema interessante, que é levantado na altura certa: 4 anos antes das próximas legislativas (esperemos...).
Também senti que o debate ficou por fazer. Houve mais espaço para a demagogia, que ainda tem lugar no nosso País se considerarmos a necessidade que os partidos têm de caçar o voto e que o seu alvo é uma população maioritariamente ileterada (entenda-se com dificuldades de intrepretação) e consequentemente sem espírito crítico. A demagogia compensará e ganhará votos àqueles que vêm a politica e a governação da mesma forma que vêm o futebol: escolhem a cor e agitam a bandeira. Assim é fácil: não é necesário pensar muito nem tomar decisões. A demagogia terá lugar no discurso do palanque, no comício, no tempo de antena.
Mas os tempos e os meios mudaram. Actualmente, temos ao nosso dispôr ferramentas de difusão com o poder de chegar àqueles que se quiserem informar. Temos a Internet, a imprensa escrita, a publicidade não endereçada, a rádio e a televisão. Por isso, agora temos menos desculpas para debater e esclarecer as coisas na generalidade, fugindo para a fácil demagogia. As metodologias de utilização destas ferramentas deverão adaptar-se aos tempos de Hoje e às rotinas do eleitorado.
Considero que, se o objectivo das legislativas é escolher um programa de medidas a desenvolver no âmbito do mandato e a equipa que governará, a campanha eleitoral deverá esclarecer-nos acerca das ideologias de cada partido, das propostas concretas que irão dinamizar e concretizar e também nos esclareça acerca das competências das equipas propostas. E tendo tão poderosas ferramentas ao seu dispor, deverão as máquinas das campanhas eleitorais dos Partidos usá-las de forma a clarificar a sua posição. Foi com agrado que verifiquei existirem nos sites oficiais dos principais partidos os respectivos programas eleitorais. No entanto tratam-se de textos extensos, o que me desincentivou a leitura e uma análise comparativa. Preferia assistir confortavelmente e sem esforço a uma apresentação vídeo do programa eleitoral, o que a Internet facilmemente permite. E se não nos quisermos esquecer dos info-excluídos, imputemos ao serviço de telefisão e radiodifusão público a obrigação de extender os tempos de antena de modo a que não sejam usados apenas para a crítica demagógica, mas que seja um espaço de apresentação sistemática de cada um dos programas. Gostaría ainda que uma entidade independente ou até um grupo de trabalho inter-partidário preparasse uma análise comparativa das diferentes propostas.
O debate também poderá ser escrito e sistemático. Assim seria mais claro. Assim seria mais fácil aferir o cumprimento dos contratos assinados ou não.
Então vamos lá "lançar mais umas achasitas para esta fogueira". Sim porque, ao contrário de "agrafo", eu acho que não estamos a 4 anos das próxims legislativas; estamos a muito menos.
Por isso, proponho, para este tema, essa mesma derivação:
(1) a que se deve a instabilidade governativa (mesmo quando existem maiorias obsolutas)?
(2) porque é que o actual sistema não consegue resolver os problemas da sociedade?
(3) porque é que as instituições sociais, políticas, económicas, governativas e da justiça não funcionam?
Para iniciar, vou, mais uma vez, "puxar a brasa à minha sardinha". Quer dizer, reafirmar o que já disse muitas vezes e acrescentar algumas coisas.
Todos sabem que eu defendo que todos os nossos problemas têm solução. Também já o disse, várias vezes, que a única razão pela qual não se chega às soluções é a ausência de democracia. É claro que, cada um pode apresentar outras justificações, ou opiniões diferentes; mas, quando se trata dos políticos, dos que detêm o poder, não é admissível que apresentem "razões" que não passam de desculpas, apresentando os nossos problemas como fatalidades, com argumentos próprios de mentecaptos. Quando se trata dos políticos é-lhes exigível, tem que passar a ser-lhes exigível, que provem, na prática, a validade dos seus argumentos. Mas os políticos não se preocupam com isso porque acham que não precisam; acham que conquistaram o direito de nos enganar, eternamente, porque, para isso contam com a monopolização dos órgãos de comunicação social, com a demagogia e com a falsidade e hipocrisia de todos os notáveis.Logo, não precisam de ter respeito pela nossa inteligência.
Isto conduz-nos à outra questão que me é tão cara. Será que a governação deve continuar a ser exercida pelos partidos, nos actuais moldes? Será que isso não é, na sua essência, um contracenso (por opção do comportamento dos próprios partidos)?
A governação, assim entregue aos partidos, nos moldes actuais, transformou-se num jogo, de cujo os problemas e as necessidades reais da sociedade estão completamente arredados. Transformou-se num jogo porque não pode ser outra coisa, em vista da fraca representatividade, objectiva, de cada partido (de cada governo). Mas a governação deve ser exercida em nome da sociedade, para resolver os problemas da sociedade. Logo o governo tem de ter o apoio e a confiança da maioria dos cidadãos. Não é assim e ninguém actua para que assim seja.
Em face deste impasse, será que podemos, ou devemos, exigir aos cidadãos que se violentem, cedam à demagogia e à mentira e votem em quem não querem, escolham onde não querem escolher? Ou será que temos que introduzir alterações no actual sistema, para que passe a funcionar e a ser eficiente?
Em qualquer caso, acho que não se pode dar "espaço" e garantir impunidade aos partidos para estes continuarem a sua destruição. O povo tem de ser chamado, regularmente, a pronunciar-se sobre o desempenho do governo e dos parlamentares, para acabar com esta bandalheira de os eleitos (alguns que ninguém elegeu) terem poderes absolutos e descricionários, até de decidirem sobre os seus próprios méritos, sem darem contas a ninguém, sem se preocuparem com a destruição que provocam, sem darem contas dos crimes que cometem. Eu disse crimes!
É que assim, sendo eles a decidir tudo (e a monopolizar tudo) isto deixa de ser democracia (que nunca foi) e passa a ser uma ditadura (que nunca deixou de ser).
É claro que pudemos sempre meter a cabeça na areia, fugir, covardemente, da realidade, concordar, subservientemente, com quem nos quer "fazer a cabeça" e deixar a situação continuar a agravar-se.
Não é necessário inovação? Todos o reconhecem! Pois inovemos onde se justifica, onde é premente haver alterações. As alterações vão acontecer; o que não está decidido é qual vai ser a nossa participação nelas; isto é: em que sentido serão.
Quando se tem uns sapatos pequenos e apertados, deve-se cortar os pés, ou trocar o sapato? Pois troquemos o sapato, porque é o mais sensato e o mais eficiente. De contrário corremos o risco de ficarmos (ainda mais) aleijadinhos.
Por manifesta falta de tempo, desliguei completamente deste blogue que foi vivendo sem mim até cair de exaustão e desespero.
Reconheço agora que errei quando pensei que ele só precisava de ser posto à água, para navegar.Como me penitencio por isso!!!
E tanta coisa ficou por debater!
Participe
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