Que educação?!
Proposto pelo nosso amigo Biranta, aqui está um tema que "dá pano para mangas".
Já foi paixão de uns quantos e grande prioridade de quase todos, mas as soluções sérias continuam por encontrar ou assim parece.
Consumimos nesta área uma fatia enorme do orçamento de Estado e os resultados são o que se tem visto : abandono, insucesso, frustração e droga.
Quando se constacta que a acção do ministério é medida, principalmente, pela forma como decorre o processo de colocação dos professores, estamos conversados!!!
Já foi paixão de uns quantos e grande prioridade de quase todos, mas as soluções sérias continuam por encontrar ou assim parece.
Consumimos nesta área uma fatia enorme do orçamento de Estado e os resultados são o que se tem visto : abandono, insucesso, frustração e droga.
Quando se constacta que a acção do ministério é medida, principalmente, pela forma como decorre o processo de colocação dos professores, estamos conversados!!!
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Há dias, um “mail” de Ademar, autor do “blog” Abnóxio, apelava à inteligência nacional, para resolver o problema da monodocência, no primeiro ciclo do ensino básico.
As críticas, muitas delas simples constatações de factos, acerca da pouca eficiência (pouca qualidade) da educação, vêm de todos os lados. O que não vem, nem se vislumbra, são medidas ou procedimentos que permitam concluir que “isto” vai mudar. Nas promessas eleitorais do actual governo, apenas constava: “apostar na educação…”. A pouca credibilidade das “boas intenções” dos políticos, que estes vastamente têm conquistado ao longo dos últimos trinta anos, faz com que esta abordagem nos sugira que este assunto continua a ser encarado como qualquer jogo de roleta.
Os debates públicos sobre o tema são frequentes mas, invariavelmente, cada grupo de interesses “defende a sua dama”, obstruindo qualquer avanço no sentido de melhorar o panorama, negro, da educação em Portugal.
Uma questão que me aflige é constatar que, desde há vários séculos, somos muito eficientes a diagnosticar problemas e as situações nacionais mais graves, sem que isso tenha qualquer efeito na alteração da realidade. A situação é tal que, se recuperarmos críticas feitas por Eça de Queiroz, elas parecem feitas ontem, acerca da nossa situação actual. Parece que também nós, aqueles que vêem a realidade com outros olhos, temos que aprender a ser eficientes, para bem de todos.
Por outro lado, não pudemos deixar de ter em conta que, tradicionalmente, os governos do PS costumam ser “premiáveis” a pressões e que, invariavelmente, têm cedido aos piores tipos de pressões, quando se trata de resolver os problemas graves do país. Actualmente, estas pressões são constantes e diárias, pretendendo encurralar o governo e encurralar-nos a nós, perante uma única saída que se pode traduzir por: “mais e pior do mesmo”.
Parece urgente que se aprofunde, também, esta discussão, se eleve a exigência de eficiência do sistema educativo, se listem os limites da decência, nesta matéria, para não continuarmos a ser tratados como ignorantes e ignorados como ignorantes.
Tendo em vista a eficiência, prática, da discussão, começo por relatar um pequeno episódio:
Há uns meses, um jovem estudante que me pediu apoio nos estudos (da matemática), dizia-se desolado porque tinha passado, de repente (dum ano para o outro) de aluno de quatros para aluno que não conseguia uma única nota positiva. Não percebia nada da matéria e dizia que a culpa era da professora. Naquele dia não tinha percebido nada da aula. Tentei saber qual o assunto da aula e também não percebi. Esmiuçando, cheguei à conclusão de que o tema tinha sido apresentado de forma demasiado abstracta. Fui verificar o que constava no compêndio e conclui que a aula tinha sido “reprodução fiel” do conteúdo do compêndio. Usei as deslocações “à terra”, dos pais do aluno, para explicar o conceito de velocidade e o significado dos respectivos símbolos. Reacção do aluno: “Ora! Assim até é bastante fácil. Porque é que a “sotora” não nos disse logo isso?”.
Já Pavlov, no início do século passado, dizia que não se deve ensinar abstracção matemática às crianças com menos de quinze anos. Pelos vistos, esta professora, desconhece este tipo de coisas básicas. No entanto, eu corrigiria Pavlov dizendo que “não se pode começar por ensinar abstracção matemática, de forma abstracta, nunca”. Ou seja: tudo (ou quase tudo) se pode ensinar, sem limites tão rigorosos de idade, desde que de forma adequada à capacidade de compreensão dos alunos.
Conclusão: no final do ano, numa turma de 28 alunos, aquela professora deu, apenas 2 notas positivas, das quais apenas uma genuína. Alguém me vai querer convencer de que os alunos são, todos, estúpidos? Ou que um método de ensino que se preze pode estar dimensionado apenas para ser acessível aos mais aptos? Aos excepcionalmente aptos? É que estes “mais aptos” são sempre uma ínfima minoria; e serão cada vez menos, à medida que a qualidade do ensino se degrada, como tem vindo a acontecer.
Uma questão que gostaria de lançar, na discussão é: que tipo de exigência e apoio (assistência) deve existir, para os professores, para que casos como este não aconteçam? É que estes casos são muito comuns. Já várias vezes dei comigo a pedir aos jovens, alunos, comportamentos de maturidade que apenas são exigível aos professores, como forma de prevenir “males maiores”.
Tenho várias outras histórias, para relatar, mas ficam para a próxima. Assim, a partir de casos concretos, talvez consigamos chegar a soluções concretas.
Quando se fala de Educação em Portugal manda o bom senso que se seleccionem muito bem as palavras a utilizar para não corrermos o risco de dar a imagem de uma “falta de educação” que não é nossa maneira de estar!
Li com muito interesse o contributo muito bem intencionado de Biranta, mas entendo que ele mais não serve do que para ajudar a fazer o diagnóstico que, para mim, está há muito feito!
A questão que interessa abordar já não é mais o diagnóstico, mas sim o tratamento e mesmo a cura total.
Andamos há mais de 30 anos a usar os alunos como cobaias e os professores como mão-de-obra barata para descobrir a solução para este mal e, no entanto, a cura só tarda porque falta coragem para assumir a verdade! E a verdade é tão simples como isto: não temos ninguém capaz de resolver o problema do ensino em Portugal!
Aqui, os meus amigos dirão que este vosso concidadão é um visionário, que já não diz coisa com coisa, que está definitivamente “passado”...
Mas não, meus amigos! Se formos suficientemente honestos para reconhecer que não somos capazes, se soubermos reconhecer que já não há nada para inventar, temos a cura ao alcance da mão, e não precisamos de destruir mais ninguém com experiências que a nada conduzem!
É só isto:- De um qualquer dos nossos parceiros europeus (recomendaria que escolhessemos bem!), copiemos a estrutura-base do ensino. Depois, é só alterar os “condimentos” para melhor adaptação à nossa Cultura e História e implementar com Determinação.
Simplista?! Não; é mesmo simples!!!
Poupam-se milhões em estudos já feitos, evitam-se traumas a mais uma geração de jovens e apoio psicológico a umas centenas mais de professores empenhados e está feita a grande reforma!!!
O resto é “chover no molhado”!
O motivo próximo, que me levou a propor este tema, foi o apelo proveniente de Ademar, do Abnóxio e a noção de que, mais um apelo abstracto, de nada serve, por maior que seja o número de pessoas que o ouçam.
O mesmo não se poderá dizer se conseguirmos identificar, com clareza, algumas práticas intoleráveis, de modo a inibir a sua continuação.
Relativamente ao contributo de “Gente de bem”, sublinho duas coisas:
(1) Andamos há 30 anos a usar os alunos como cobaias (de experiências) e os professores…
(2) Simplista?! Não! É mesmo simples. Poupam-se milhões em estudos já feitos, traumas em mais uma geração de jovens e apoio psicológico a Professores…
Este nosso amigo afirma também: “a cura só tarda porque falta coragem para assumir a verdade! E a verdade é tão simples como isto: não temos ninguém capaz de resolver o problema do ensino em Portugal!”
Não podia estar mais em desacordo. Por quê? Porque, a meu ver, esta “atitude” é semelhante à que tem sido seguida, e que nos conduziu a este “beco”, donde alguns não vêem saída.
Repito aqui o que já disse inúmeras vezes, não apenas acerca deste tema: Existem, em toda a parte, soluções para tudo e também as pessoas capazes de “implementar essas soluções”. É claro que isto pressupõe a colocação das pessoas certas nos lugares certos (e também algumas alterações de critérios).
Uma das questões que não pode ser escamoteada é que, na profissão de professor, não se admitem incompetências. No entanto, o apelo de Ademar, que é professor, afirma claramente: “um(a) professor(a) absolutamente incompetente (e como eu conheço tantos...)”. Estas situações são facilmente identificáveis, quer pelos colegas, quer pelos alunos e respectivos pais, cujas reclamações, queixas, angústias, ou simples perguntas, são, sistematicamente, ignoradas. Porquê?! Isto tem de mudar. Porque os nossos jovens não podem continuar a ser cobaias, nem de experiências maquinadas em gabinetes, nem de interesses de compadrios, que são a única explicação para se manterem em exercício professores que não sabem sê-lo, nem querem saber sê-lo.
Apesar disto, continuam a ouvir-se, sistematicamente, denúncias de que a colocação de professores não é transparente, nem por parte das escolas nem por parte do Ministério; que continua a imperar o velho sistema da cunha, em ambos os casos.
No nosso sistema de ensino existe ainda esta coisa fantástica de os país mandarem os filhos para a escola, convencidos de que eles vão para as aulas, mas correrem o risco de os filhos ficarem horas sem aulas, porque faltam os respectivos professores. Para já não falar nos alunos que ficam meses à espera de que seja colocado um professor, ou que ficam sem professor durante meses, por doença, ou parto... Toda a gente acha isto normal, quando, afinal, tem um efeito devastador no sentido de responsabilidade dos alunos e aumenta a probabilidade de se transformarem em adultos desleixados e irresponsáveis. É um péssimo exemplo para a educação dos nossos jovens, para além de prejudicar o seu aproveitamento. Um dia, tentei abordar esta questão, numa reunião de pais, mas o presidente do conselho directivo interrompeu-me e não me deixou voltar a falar. Um bom exemplo do nepotismo de alguns professores, sobre pais e alunos.
Em que raio de república das bananas vivemos, onde são os alunos e os pais que têm de reconhecer aos professores o direito de faltar (sofrendo todas as consequências), em vez de serem as escolas e o estado a reconhecer e garantir esse direito? Isto é uma prática incentivadora de indisciplina, intolerável. Daquelas coisas em que o exemplo tem um enorme peso.
Falta o problema dos compêndios, da sua selecção, e de mudarem, todos os anos, apenas para proveito das editoras.
Para finalizar, só mais uma coisa. Aqui como em tudo, os problemas resolvem-se actuando na realidade. As escolas têm de ser responsabilizadas pelos resultados que obtêm e pelo desempenho de todos e de cada um dos professores, mas têm de ter uma palavra a dizer. Os problemas colocados pelos pais e pelos alunos não podem continuar a ser ignorados, como até agora.
Resumindo: qualquer reforma ou alteração engendrada em gabinetes, por “brilhantes cabeças”, só pode dar em “mais do mesmo”; a manutenção de situações e procedimentos absurdos e aberrantes só pode ter os efeitos que se conhecem.
Actue-se na realidade, ouvindo as pessoas e resolvendo os problemas concretos, que se encontrarão as soluções. Acabe-se com o nepotismo e com a impunidade, porque estamos a lidar com uma das áreas mais sensíveis da sociedade.
Já aqui passei vezes sem conta e sempre consegui resistir à tentação de intervir.
Hoje, não resisti... e aqui vai!
Isto da educação, e da reforma da dita, é tema que me incomoda !
Já cá ando há uma porrada de anos, já li e ouvi imensa demagogia sobre a educação, e sobre a cultura, e sobre a democratização da educação, e sobre a democratização da cultura, e sobre a igualdade de oportunidades, e sobre ... e sobre todas essas coisas de que às vezes se volta a falar!
Vamos lá a ver se nos entendemos!
Enquanto a todo o incompetente, a que se decida chamar ministro, se reconhecer o direito de brincar com o futuro de gerações de gente que não tem força nem arte para fugir à sua utilização como cobaia, não vamos a parte nenhuma !
Enquanto o respeito que vamos tendo por uns milhares de homens e mulheres que honesta e dedicadamente se vêm dedicando ao ensino, não for suficiente para vencer a natural reserva que nos coíbe de dizer “basta” a tantos outros incompetentes, mercenários do ensino, que mais não fazem do que receber o ordenado e esperar que o tempo passe!
Enquanto não formos capazes de ver bem o que é preciso antes de falar, enquanto não entendermos que não são as necessidades do ensino que têm que se submeter às reais competências dos docentes, enquanto não pensarmos tudo isto como se de uma construção se tratasse e for, também aqui, expressamente proibido criar barreiras arquitectónicas e auto-estradas de facilidades...
Enquanto não for proibido experimentar sem assumir compromissos, prometer sem ter que cumprir, afirmar sem ter que provar,..., não vamos lá!!!
É isto que eu sinto, é assim que eu vejo, e já fiz quase tudo... até dar aulas!!!
Não sendo a área da educação, assunto onde tenha muitos conhecimentos para além do que é implícito e noticiado, contudo, não queria passar em branco neste tema pertinente.
A educação é um dos direitos fundamentais dos cidadãos, consagrado na Constituição, pelo que requer o empenhamento inequívoco de todos os governos na sua implementação.
A educação se sempre foi, hoje em dia mais do que nunca, deverá ser mais que fundamental, prioritária. É ela que marca a diferença entre os primeiros e terceiro mundos.
A educação na sua componente educadora, permite ao povo obter uma formação básica indispensável para avaliar a acção do governo e sancionar ou apoiar os seus protagonistas em tempo eleitoral.
Na sua vertente instrutiva deverá facultar os conhecimentos e os meios necessários para a criação no povo de um grau mínimo de intelectualidade, garantindo uma formação básica consentânea com os tempos actuais.
Também é da sua responsabilidade a faceta formativa de todos os agentes técnicos das diversas áreas do conhecimento, hoje em dia indispensáveis no mundo global e tecnológico em que vivemos.
Pelo exposto, caberá ao governo além de implementar a educação, definir que tipo de educação será mais adequada nas suas três vertentes, a educativa, a instrutiva e formativa.
Nas duas primeiras, mais do que optimizar os programas de ensino, o governo deverá também preocupar-se com a forma de como esses programas são ministrados, para que o óptimo não fique pelo medíocre.
Deverá ser estimulado o interesse dos alunos pela escola, evitando o absentismo e o abandono, tornando a aquela não num local de obrigação, mas sim apetecido. Para tanto ela deverá ser um lugar atraente no conjunto das suas actividades, onde quem vai receber a instrução encontre motivações se sinta bem.
Nestas fases, o ensino deve ser gratuito, bem como todos os meios educativos a utilizar, não esquecendo desta forma que a educação é um bem que assiste a todos.
Na formativa, providenciar a actualização dos conhecimentos tecnológicos, por à disposição os meios indispensáveis e o seu ensino ao mais alto nível.
O custo da formação para os alunos deverá depender do grau de interesse nacional da mesma, ficando só dependente da capacidade de aprendizagem. Partindo do custo zero para as especialidades de maior interesse nacional, o preço da aprendizagem subiria gradualmente, atingindo o seu valor mais elevado naquelas em que o interesse é só subjectivo ao aluno.
Por aquilo que sei não se passa assim, mas devia ser, e não depender de vontades políticas ou ideias pedagógicas, que tantas vezes visam não uma boa aprendizagem mas a redução orçamental.
Volto aqui para lançar mais algumas achas para este assunto e também para falar das duas últimas intervenções.
Cá vão as achas:
Este assunto nasceu dum apelo dum bloguer, que também é professor. Existem, por aí, vários blogs assinados por professores, que, todavia, se têm escusado a esta discussão. Eu achava que já era líquido, para qualquer pessoa instruída, que as mudanças necessárias não se obtêm com apelos abstractos; que é preciso muito mais esforço. Daí me parecer que há muito que alterar no comportamento dos próprios professores, como eu já desconfiava antes.
Meus senhores! Se as coisas estão mal é necessário dizê-lo, redizê-lo e aprofundar as questões, identificando claramente quais as mudanças necessárias, se queremos que os nossos esforços sejam eficientes. Não quero pensar que os professores se achem donos da verdade e “fiéis depositários” das soluções, cada um, porque isso nunca é assim; porque as soluções boas são as que sobrevivem à discussão democrática, com a participação de todos. E, tal como acontece em muitos outros sectores da vida pública, isto é um assunto que diz respeito ao País, como um todo, não apenas aos professores. Além disso, a eficiência da “intervenção” das estruturas que representam os professores, nós temos visto; e é NADA! Continua tudo na mesma. Talvez porque, à semelhança de tantas outras estruturas, sobrevalorizam os interesses corporativos, sem se importarem com as nefastas consequências. Tal como em todos os outros sectores, os problemas da Educação também têm solução; se elas não aparecem é porque todos os intervenientes falham. Quando se trata de organizações as falhas são inegáveis, porque as organizações têm outro peso e outro poder que as pessoas não têm.
Ou será que todo este silêncio, dos professores, evidencia a ausência de garantias democráticas, no exercício desta profissão, como acontece em muitos outros aspectos. È que, os apelos abstractos, como podem ser interpretados segundo os interesses e opinião de cada um, não comprometem. O mesmo não se podendo dizer da caracterização, objectiva, das atitudes e práticas condenáveis…
Louvo a intervenção de Pindérico, porque ela reflecte o sentir da maioria das pessoas esclarecidas; e também que existem por aí, de sobra, as pessoas capazes de contribuir para resolver os nossos problemas. (Vocês vão-me desculpar que insista sempre neste assunto, mas é muito importante que todos percebam e, no meio de tanta demagogia e falsas verdades misantropas e auto caluniadoras, é preciso dizê-lo muitas vezes para que as pessoas se comecem a aperceber da profunda verdade “da coisa” e da sua importância para todos, para a esperança colectiva e confiança no futuro).
Hei-de voltar aqui para relatar mais alguns exemplos aberrantes, do nosso ensino mas, por agora, é tudo!
Ainda que só sirva para atear mais a fogueira transcrevo aqui, com o devido respeito, o texto que fui "roubar" à Grande Loja:
Depois da Segunda Guerra Mundial, a Finlândia era um país pobre e tinha de encontrar um meio de sair da precaridade. A educação foi o caminho escolhido. Os resultados estão à vista: os alunos finlandeses são os melhores na literacia literária, matemática e científica,[...]. Durante os nove anos de escolaridade obrigatória, as famílias não fazem qualquer gasto - o investimento em educação é de 5,8 por cento do PIB. O Estado oferece escola, transportes e uma refeição quente diária. O ministério paga ainda o material e manuais escolares, do 1º ao 9º ano. Só quando os alunos chegam ao ensino secundário é que as famílias começam a despender algum dinheiro, nomeadamente nos livros - que, ao contrário do que acontece em Portugal, são avaliados pelo ministério.
Os dias de aula são curtos e terminam cedo. Depois do almoço, os estudantes dedicam-se a outras actividades, que podem ser feitas na escola ou na área da residência, como desporto ou música.(...)Desde o ensino pré-escolar (os miúdos são obrigados a fazer apenas um ano de pré-primária, aos seis anos e aos sete entram para a 1ª classe) que as escolas e as bibliotecas trabalham em conjunto para cultivar o gosto e a frequência dos espaços de leitura.(...)
A estabilidade que se vive nas escolas, desde os programas que têm mudado muito pouco ao corpo docente, que é escolhido pelos estabelecimentos de ensino, é outro dos factores a ter em conta. "Não há concursos de professores, como em Portugal", compara Pirnes. Quando falta um docente, a escola abre uma vaga e selecciona o profissional.
A vida de um professor é estável e este tem liberdade para desenvolver o seu trabalho a partir do currículo lançado pelo Ministério da Educação.(...)
A Finlândia começa a debater-se com um problema comum a outros países europeus: a falta de professores. Os actuais estão a aproximar-se da idade da reforma e apenas duas, em mais de 20 universidades, têm cursos de professores com vagas controladas para não criar excesso de profissionais.
E, já que estamos para aqui virados, acrescento o comentário que deixei no "Ideias soltas" (http://ideias-soltas.weblog.com.pt/ ) sobre o mesmo tema:
"Mas,..., a resolução do problema passa mesmo pela escola! A questão é que o problema está mesmo nela, na estrutura, nos docentes (em muitos deles), no facilitismo que começa na primária e, tirando alguns honrosos casos, vai até ao doutoramento, nos ministros e ministérios a quem são dados poderes para que não têm competência, das reformas e "experiências pedagógicas" que são introduzidas com a maior irresponsabilidade,..."
"Não é verdade que passamos anos a fio a classificar um ministério pelo maior ou menor insucesso conseguido na colocação de professores?
Não é verdade que se combateu o "insucesso escolar" proibindo a reprovação?
Não é verdade que há cursos em que os alunos chegam à universidade e se apercebem de que não têm quaisquer bases, para poder ter sucesso?"
"Tem toda a razão quando diz que "será inadequado almejar sucesso a uma qualquer reforma curricular". Do que se vem fazendo, eu acho que, de facto, ninguém quer mais!
Já chega de experiências com o futuro de "gente"!
Impõe-se que comecemos o edifício pelos alicerces e estudemos as escadarias por forma a que o esforço seja constante, estimulante e compensador!"
É claro que aceito a crítica de que o que acabo de transcrever nada custa a escrever; custa sim é concretizar! Mas a aceitação destes princípios já é meio caminho.
Comecei a minha primeira intervenção com a confissão "Não sendo a área da educação, assunto onde tenha muitos conhecimentos...". Contudo, após
ler o que foi escrito neste debate pelos intervenientes, cheguei à conclusão de que todos ralham e ninguém tem toda a razão.
O estado de deterioração a que chegou o nosso ensino, não se compadece com medidas avulsas, requer um esforço nacional com a participação de todos os intervenientes responsáveis. Enquanto cada um puxar a brasa à sua sardinha, as sardinhas não assam, acabando por ficarem encruadas.
Um abraço. Augusto
Há muita coisa mal no sistema de ensino e há pouca reflexão sobre essa realidade,em todo o lado e entre os professores. Acredito que o problema tem solução mas vai ser difícil de resolver.Uma vez por outra - quando aparece um estudo internacional em que aparecemos em último lugar - ou quando aparecem os resultados das provas de aferição, os nossos governantes, sejam qais forem ,aparecem com o discurso da mudança. Passada uma semana está esquecido. Haverá desta vez coragem para atacar o mal?
MesadoCostumeEducação11
As duas últimas contribuições de Pindérico merecem-me as seguintes reflexões:
No que se refere à experiência da Finlândia, acho que deve ser encarada como prova do que tenho dito; ou seja que não são as nossas debilidades económicas ou outras que condicionam o nosso desenvolvimento, mas sim a qualidade dos que nos governam e de outros que detêm cargos (e cargozitos) e que se estão nas tintas para os seus desempenhos, porque isto se transformou num forrobodó, onde cada um faz o seu pior, que consegue, para ajudar a agravar os nossos problemas colectivos.
Em situações de forte agitação social escolhe-se um bode expiatório, onde todos descarregam as suas frustrações mesquinhas, para logo depois se acomodarem com “mais e pior do mesmo”. O caso mais recente, de Santana Lopes, é apenas um exemplo, extremo, disto que digo. No meio desse tipo de maledicência primária, existe muita gente que participa, de forma premeditada, com objectivos os mais tenebrosos.
Porque é que isto me preocupa? Porque são episódios que exaurem a nossa energia colectiva, a confiança da população e vão destruindo, corroendo, as hipóteses de mobilização para superar os problemas actuais e sair do abismo, sobretudo porque as críticas são mais destrutivas do que construtivas; não existe preocupação em apontar os caminhos correctos ou em adoptar as atitudes dignas que se impõem. Se tudo é culpa dos políticos e de algum bode expiatório de ocasião, porque é que estes profissionais terão que se preocupar em melhorar o seu desempenho?
Perdoem-me a insistência, mas como eu acho que a maioria dos nossos problemas provêm do desempenho dos respectivos profissionais, muito mais do que de questões estruturais e de “falta de meios”, obviamente que o mesmo se aplica ao ensino. Não há dúvida que existem questões estruturais e de organização a resolver, que têm influência na nossa situação, mas não têm tanta influência. O que pretendo dizer é que, na educação, como em todos os outros sectores, os problemas estruturais e de organização (reparem que não falo da insuficiência de meios) explicam apenas uma parte, uma ínfima parte do problema; o resto deve-se à irresponsabilidade e à impunidade, à ausência de responsabilização por parte dos que exercem as respectivas funções, em todos os níveis, que são irresponsáveis e que se comportam (e reivindicam o estatuto de) “inimputáveis”.
O que pretendo dizer aqui, com todas as letras, é que, em qualquer sector que esteja em situação tão má e grave como a educação (ou a justiça, ou a saúde, ou…), todos os profissionais têm responsabilidades nisso (por acção ou omissão), sendo essa responsabilidade tanto maiores quando se trata de conselhos directivos, estruturas sindicais, associações, etc. Todos sabem que o principal problema da colocação de professores, do ano passado, foi a introdução do factor “cunha”; e que, por parte das escolas, também existe compadrio e esquemas.
É claro que o governo pode resolver estes problemas (poderá?), mas tem muitas dificuldades em fazê-lo porque se defronta, imediatamente, com as pressões e boicotes e oposição das respectivas estruturas, que já estão distorcidas por via destas “traficâncias”. O governo pode resolver isto, mas terá de usar de firmeza e inflexibilidade que não interessa, porque os próprios governos estão “envolvidos” com a protecção dos profissionais incompetentes, por via destes esquemas de compadrio e tráfico de influências, que conspurca todas as nossas estruturas. Vocês vão-me desculpar, mas quando eu entro numa discussão é para dizer o que se impõe. O governo pode acabar com este descalabro, mas precisa de punir, exemplarmente, todos os que falham. Sim porque quem falha, na educação, não é o governo; são as escolas e respectivos profissionais. Até porque a maioria das “queixas” de pais e alunos dirigem-se às escolas e desempenho dos professores. O governo falha porque não responsabiliza, não vigia, não exige (como deve), tolera todo o tipo de crimes.
Num dos muitos episódios vividos por jovens a quem “ajudei”, há um episódio de arbítrio na atribuição duma nota. O assunto é apresentado ao professor responsável pela turma, mas fica sem resposta e o arbítrio mantém-se. Sim porque os nossos jovens devem habituar-se, bem cedo, aos arbítrios e injustiças, à prepotência.
Num outro episódio que já contei aqui, quando tentei explicar a importância de os alunos não terem “furos” devido a faltas dos professores, o Presidente do Conselho Directivo interrompeu-me, não para dizer (o que, em todo o caso seria uma mistificação), que não podia resolver o problema, mas para argumentar que: “se eu tivesse aí um professor para suprir as faltas, se houvesse dois professores a faltar à mesma hora, continuava a haver professores não substituídos”.
Quando um professor “avalia” assim, com todo este sofisma e demagogia (e estupidez) a utilidade duma medida a que devia ser obrigado por lei, mas que, em todo o caso, devia implementar por uma questão de elementar bom senso e rigor, acho que nada mais há a acrescentar acerca dos verdadeiros motivos do descalabro que se vive na educação. Por acaso eu até ia sugerir uma solução, que é possível a custo zero (que podia permitir “disponibilizar” para suprir as faltas, mais do que um professor). Mas não sugeri nada, porque, nestes sectores, está tudo bem, não se procuram, nem estes responsáveis se preocupam com, soluções e vias de fazer melhorar as coisas. Para quê? Se a culpa é dos políticos…
Isto tudo para concluir que, ao contrário de Pindérico, eu acho que estes problemas são fáceis de resolver… Basta que se privilegiem as regras das democracia e as atitudes democráticas. É necessário que cada um assuma as suas responsabilidades sem sofismas e procure, com clarividência e humildade, as vias de melhorar. Se as pessoas não sabem como resolver os problemas, no mínimo, deviam ouvir os outros com atenção. É preciso acabar com a impunidade; é preciso acabar com tanta presunção balofa. É preciso que os pais e alunos não sejam vistos e tratados com desprezo. É preciso que alunos e pais deixem de ser considerados como “eles” os culpados de todos os males.
Estou a falar disto tudo no sentido construtivo, mas também sei que existem casos de disputas entre professores e casos de perseguições injustificadas, onde vale tudo, a par da garantia de impunidade aos “afilhados”.
Isto para dizer que, no essencial, estou de acordo com a última contribuição de Pindérico. Também acho que é tempo de tipificar, claramente e sem covardias, as práticas e atitudes que nos conduziram até aqui, para passar a inibi-las e para acabar com a situação de “todos ralharem e ninguém ter razão”. Não é preciso que alguém tenha “toda a razão” só é preciso é encontrar vias de sair disto, sem deixar espaço para a continuação da actual impunidade. Mas essas vias têm de ser procuradas, em primeiro lugar, por quem exerce os cargos, com a colaboração de todos, em perfeita transparência e democracia. Muitos destes casos são motivados pela falta de transparência que é necessária para os arbítrios e o favorecimento pessoal, central ou local.
Antes de introduzir alterações (ou ao mesmo tempo que se introduzem alterações) é necessário “arrumar a casa” e acabar com a irresponsabilidade que grassa por aí.
Participe
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