Porque temos que ter um Deus?
"Para fugirmos, pelo menos de vez em quando, ao tema da política, proponho para debate o seguinte tema. PORQUÊ TEMOS DE TER UM DEUS?"
Este foi o desafio de Augusto M, que naturalmente decidimos aceitar!
Será que temos que ter?
Será que somos nós mesmos que queremos e, por isso, temos?
Será que é a consciencia das nossas limitações que nos leva até Deus?
Será que é "apenas" Deus que se nos impõe pela sua omnipresença ?
...
E os que O não reconhecem?
Porque temos que ter um Deus?
Este foi o desafio de Augusto M, que naturalmente decidimos aceitar!
Será que temos que ter?
Será que somos nós mesmos que queremos e, por isso, temos?
Será que é a consciencia das nossas limitações que nos leva até Deus?
Será que é "apenas" Deus que se nos impõe pela sua omnipresença ?
...
E os que O não reconhecem?
Porque temos que ter um Deus?
10 Contributo(s)
Por acaso, au acho que nós não temos UM Deus. Dizem os entendidos que foi o facto de terem uma religião monoteista que determinou "a superioridade" civilizacional de alguns povos, na antiguidade. Embora reconhecendo a lógica do raciocínio e, por isso, a sua justificação, acho que a antiguidade já está muito longe e a humanidade cresceu muito, intelectualmente e filosoficamente falando, desde então. Infelizmente, a prática ainda está muito longe desses avanços filosóficos. Isto para dizer que, como em tudo na sociedade, aquilo que era uma vantagem, se pode transformar num "inconveniente".
Porém, devo sublinhar que não me parece que "venha mal ao mundo" pelo facto de cada pessoa acreditar, ou não, num qualquer Deus.Outrossim, vem muito mal ao mundo, através da manipulação, criminosa, que se faz da crendice individual, da fumentação dessa crendice, do sectarismo anti-social fomentado, pretextando a crendice. Isso sim, me parece condenável, anti-democrático e, portanto, retrógrado.
Parece-me inútil e até prejudicial vociferar contra as opções religiosas (ou agnósticas) de cada um. Até porque, se virmos bem a coisa, actualmente temos um outro fenómeno com semelhante efeito: a partidarite. Isto para não falar no futebol.
Entender as regras da convivência democrática e os limites e implicações do respeito por todos e por cada um é o que me parece mais importante, para a resolução dos nossos problemas colectivos, nacionais ou mundiais. Numa palavra: civismo!
Só para concluir que, a meu ver, o nosso principal problema não provém de "termos um Deus", provém do facto de termos milhões de deuses; de cada um ter "um Deus" à sua própria imagem e semelhança, que lhe confere direitos e imnportância especiais. Veja-se, a título de exemplo aberrante e pérfido, o facto de Bush invocar Deus ao mesmo tempo que iniciava uma das maiores infâmias dos nossos dias. Em pleno século XXI. É admissível?
Para além do facto de cada um ter o "seu Deus", acresce, como mal ainda maior, a manipulação a que este tipo de pessoas estão sujeitas, as menos avisadas (que são também as mais susceptíveis de crendices).
Por mim, podemos deixar a cada um as suas convicções, desde que isso não impeça ou prejudique ser-se civilizado.
Quando o homem obteve a consciência da sua própria existência e adquiriu a faculdade de raciocinar, diferenciou-se do contexto de um todo universal sem princípio nem fim.
Condicionado pelo mundo dos sentidos, não tem capacidade para conceber o que quer que seja fora do âmbito deles. A abstracção pura é inatingível para ele.
O desconhecimento da sua limitação sensorial, leva-o a julgar-se o ser superior de toda a existência sensível e, como tal, a medida padrão para tudo o que os seus cinco sentidos podem conceber.
Em consequência disso cria a noção de espaço e tempo, transformando o intemporal em temporal dos sentidos.
A noção de espaço e tempo implica inexoravelmente a existência de um princípio e fim para as coisas.
O princípio e o fim das coisas coloca por sua vez ao homem uma questão fundamental. Quem as criou?
Prisioneiro do tempo e do espaço, desconhecedor do infinito em que está inserido, concebe um criador perceptível no âmbito dos sentidos, por isso mesmo limitado.
Limitar tudo a um criador é limitar o que não tem limite.
Esse criador só pode ser concebido à própria imagem do homem, com tudo o que este tem de bom e de mau, ou seja, faz mergulhar o criador no mundo dos sentidos.
Deus só existe porque o homem existe. O homem tornou-se, assim, o criador do seu próprio criador.
No mundo dos sentidos o maior temor é o finito previsível para o qual a única explicação que conhece é a criação. Tudo o que é destruído teve de ser criado.
Co-responsabilizando o criador pela criação e destruição passa a temê-lo. Procurando agradar-lhe, o que só consegue fazer no âmbito do seu mundo dos sentidos, cria para tal as diversas religiões.
Amigo Biranta, feito este intróito, passo a comentar o seu texto.
No sentido corrente da palavra, também não tenho um Deus, mas aceito com mais facilidade o Nous (inteligência) de Anaxágoras.
Os entendidos que dizem que foi devido ao facto de serem monoteístas que determinou “a superioridade” civilizacional de alguns povos, na antiguidade. É um erro.
Que eu conheça não existiu, antes do advento do Cristianismo, nenhuma civilização monoteísta. As grandes civilizações, romana, grega, persa, egípcia e tantas outras mesmo do extremo oriente, que atingiram um elevado grau civilizacional, não eram monoteístas, pelo que penso não haver relação nenhuma.
Não está no âmbito do tema discutir as regras democráticas para a aceitação das convicções de cada um, mas sim as razões que levam a ter essas convicções, e neste ponto acho importante o meu intróito.
Para a maior parte da humanidade, o crer num Deus, é a justificação da sua própria existência, o consolo de uma paternidade que tudo rege e que tudo pode, mesmo o que for impossível para o homem. Com Ele a inquietação com a finitude da existência atenua-se, pois Ele é a esperança do garante da continuidade, apesar de não se saber ao certo como.
É nesta esperança que nasce a fé, e a fé é parte integrante da intelectualidade de cada um, sem ela o indivíduo seria um ser à deriva no fatalismo.
A questão do deus existir ou não a meu ver deriva da nossa natureza de primatas e de animais gregários. A necessidade de um deus, que aumenta com o aumentar da população e dos aglomerados populacionais, surge da procura de alguem que nos guie e nos dé uma orientação social da nossa existencia. É assim que ocorre nos primatas e em muitos animais gregários. O aparecimento de um só deus nasce mais de uma necessidade política de modo a melhor controlar uma população crescente e mais dispersa. Diferentes deuses geram diferentes credos e novos nichos de poder que podem fugir mais facilmente aos detentores do poder supremo. É tudo uma questão de conveniencia.
Não posso estar mais em desacordo com o seu texto.
“A questão de deus existir deriva da nossa natureza de primatas e de animais gregários”
Segundo me parece os macacos, que são Primatas, não têm um Deus.
“A necessidade de um deus, que aumenta com o aumentar da população……………...”
A necessidade de um Deus não aumenta com a população, pois ela é subjectiva, a maior ou menor intensidade dessa necessidade depende de cada indivíduo.
“O aparecimento de um só Deus nasce mais de uma necessidade política de modo a melhor controlar………..”
A criação de um só Deus não é diferente da criação de mais do que um. Em ambos os casos os fins são alcançados, responder aos anseios do homem na sua inquietude face à morte.
É certo que diferentes deuses geram diferentes credos, mas todo o credo é válido para chegar a ele. A finalidade é a mesma, difere só na forma.
Quanto à criação de “novos nichos de poder que podem…………..”, não compreendi a onde queria chegar.
Um abraço. Augusto
Caro Augusto.
Quando eu me refiro aos primatas o que eu quero mostrar é que um deus não é mais que um líder ou chefe que define a moral e a ética nesse grupo.
Em relação á necessidade política de um só deus eu lembro-me sempre do fim do imperio romano em que se adoptou o cristianismoe o seu deus uno apenas para destruir o poder dos sacerdotes da antiga religiao politeista romana e concentrar nas mãos dos imperadores todo o poder.
Cumprimentos
Caro Neuroglider
Na minha opinião não é um Deus que define a moral e a ética, mas sim o homem que o faz, justificando-se usando o seu nome, conforme o seu interesse. Deus fica-se pela espiritualidade. A moral e a ética é uma espécie de materialização fraudulenta dessa espiritualidade subjectiva de um grupo, para servir o conceito de vida que escolheu. Duas ou mais comunidades podem ter o mesmo Deus e contudo diferirem em muito nos seus conceitos de moral e ética.
No caso romano não foi a necessidade política de um só Deus,
mas sim o recrutamento de apoio político, o Deus chegou por acréscimo.
Quando Constantino em 313, promulgou o Édito de Milão, no qual dava a liberdade de culto aos cristãos, não foi para destruir o poder dos sacerdotes da religião politeísta romana, mas sim para conquistar o apoio incondicional da comunidade cristã que na época já era uma organização tão forte e importante que quase formava um Estado dentro do próprio Estado.
Conforme digo anteriormente, não podemos confundir a espiritualidade
que um Deus oferece aquem necessita dela, e o egoísmo materialista do homem que age em seu nome.
A minha questão é tão somente esta: será que o homem precisa mesmo dessa espiritualidade? Será que ele não é capaz de encontrar essa espiritualidade dentro dele próprio?
Tive muito gosto nesta troca de ideias consigo, espero voltar a encontrá-lo noutros temas.
Um abraço. Augusto
Volto aqui para clarificar a minha posição
Amigo Augusto, tem razão! Em vez de dissertar sobre a minha posição acerca das religiões, eu deveria ter dito logo: Não! Não temos de ter um Deus!
Tal como reconhece, quer no seu artigo “Anaxágora”, quer nos artigos escrito aqui, os mais brilhantes pensamentos filosóficos, aqueles que ainda hoje podem ser referidos como explicações coerentes dos fenómenos que nos rodeiam, nasceram à revelia das crenças instituídas. Só assim se explica que Anaxágoras tenha sido condenado à morte por ateísmo.
Esta “proibição” do pensamento, de qualquer actividade intelectual livre, teve os seus efeitos mais criminosos durante a idade média. Tanto que ainda hoje este período é referido como “a longa noite de dez séculos”. O que isso irá custar à humanidade, ou se irá custar-nos caro, não sabemos; talvez até nunca venhamos a saber.
Por outro lado, o que são as religiões, e o seu papel na vida das pessoas, é uma questão em constante mutação (ou evolução). À medida que o conhecimento e a ciência evoluem o “domínio” da religião vai-se ajustando (e encolhendo). Estou a falar da religião, tal como a conhecemos, porque existem “religiões” cujas práticas são, apenas, preceitos de vida “social e intelectual”.
Com isto tudo, o que pretendo dizer é que a “necessidade” de ter um Deus, uma crença, representa, a meu ver, um estado rudimentar de desenvolvimento intelectual, seja ele pessoal ou colectivo. Representa, pura e simplesmente, uma incapacidade de lidar com o desconhecido, de reconhecer as limitações da compreensão que temos dos fenómenos que nos rodeiam. Se há um qualquer fenómeno que nos é perceptível, mas que é inexplicável para o nosso nível de conhecimento, então é porque é obra de Deus (ou de outras coisas, às vezes mais aberrantes). Essa “soberba” primária, que aqui se revela pela “necessidade” de deter o domínio da verdade (que é onde entra o Deus), reflecte-se, frequentemente, em comportamentos anti-sociais, que provocam muitos conflitos facilmente evitáveis, fúteis, prejudiciais e injustificados.
Existe uma outra razão para “termos de ter um Deus”: a grande razão das pessoas (crentes) mais elementares (e não só) para a necessidade de termos um Deus, para “imporem”, como imprescindível, essa “aceitação” é a necessidade de haver um prémio, ou um castigo, inevitáveis (Céu e Inferno, respectivamente), para que as pessoas se respeitem, para inibir a criminalidade (ou a maldade humana, no dizer, muito frequente, de alguns pretensiosos intelectualoides).
Pois eu acho duma pobreza intelectual confrangedora, duma enorme ignorância e primarismo, que alguém necessite da existência duma recompensa, ou castigo, para ser civilizado, para ser justo e correcto e digno para com os outros. É assim uma espécie de coisa que considero abaixo da condição humana.
Porém, há que reconhecê-lo, não nasci assim: tal como a maioria da população portuguesa, recebi “educação” católica e tive que aprender todos os respectivos “preceitos”. E, pasme-se, os primeiros abanões na minha fé surgiram da percepção da existência doutras religiões, o que me colocou perante a contradição da existência dum Deus que ama toda a humanidade, mas que se revela apenas a uma parte dela. A partir daí o resto foi “crescimento” intelectual.
A minha “repulsa” pela afirmação de que “temos que ter um Deus” fundamenta-se, sobretudo, nisto, mas não só. Para uma grande parte das pessoas, a necessidade da religião resulta duma necessidade de ter alguma actividade intelectual, que a sociedade, tal como funciona, lhe recusa. A própria religião maioritária entre nós, por via dos condicionalismos que aceita, pelo facto de ser religião oficial e, como tal, dever fazer bem o seu papel na manutenção da alienação das pessoas, também não preenche essa necessidade. Por isso, o grande êxito de novas religiões que, por terem menor número de aderentes, têm rituais mais apelativos e até talvez mais “humanos”.
A minha repulsa pela afirmação de que “temos que ter um Deus” provém, também, do facto dessa afirmação conter, em si mesma, a explicação e aceitação do funcionamento da sociedade tal como hoje a conhecemos, ignorando a satisfação dessas necessidades intelectuais ou psicológicas, passando tudo para a esfera do pessoal e respectivas opções religiosas, consideradas como normais e inevitáveis (a não ser por uma casta de iluminados, que se compraze a observar os “humanóides”).
Não se pode permitir a continuação da degradação das nossas condições de vivência em sociedade, não se pode tolerar que a nossa vivência seja cada vez menos “em sociedade”, com esse ou qualquer outro pretexto. As pessoas são pessoas, independentemente de acreditarem num Deus, ou não, por isso a sociedade tem de funcionar ao nível das pessoas mais exigentes, para não ser entrave ao desenvolvimento pessoal.
Mas, pior do que isso, para além de todo o aproveitamento “oficial” dessa lei (de que temos de ter um Deus) existe ainda a enorme influência dessas crenças na nossa vida social e na forma como nos relacionamos uns com os outros. Dessas influências, a limitação da expressão das ideias e até do livre pensar (portanto: de continuação da evolução) não é, certamente, o menor dos problemas que coloca.
De facto, o que eu penso acerca de “temos que ter um Deus”, é que isso corresponde a um estádio, rudimentar, do desenvolvimento intelectual da humanidade. Estádio esse que está a ser prolongado artificialmente, negando-se, às pessoas, a instrução a que têm direito, e também a livre discussão das ideias, de todas as ideias.
Reconheço que, para os crentes, não adianta dizer este tipo de coisas. Por isso, e porque todos somos humanos apesar disso, prefiro encarar as pessoas e a minha relação com elas, apenas como pessoas. Respeito as crenças de cada um porque sou democrata e porque, para mim, essa é a minha grande “crença”; mas rejeito qualquer afirmação de que “temos de ter um Deus”, porque isso já prejudicou a raça humana mais do que devia. Nada se resume a “temos que ter um Deus”. Que cada um tenha, ou não, um Deus é uma coisa bem diferente de se estabelecer a lei, analisando (e aceitando) os fenómenos da vivência social à luz dessa afirmação. Provoca-me urticária, alergia, todo o meu intelecto se rebela contra essa “padronização” alienante e limitadora. Total liberdade para o pensamento! Abaixo “os deuses” e o seu papel de carrascos do desenvolvimento e do pensamento humano!
Amigo Biranta
Desta vez estou com alguma dificuldade em fazer o contraditório, como agora está na moda dizer, pois subscrevo inteiramente os seus pontos de vista, e como tal não seria honesto da minha parte, tentar provar que o ferro é madeira, quando estamos de acordo quanto à matéria.
É sem dúvida verdade, que este problema de termos um Deus, deriva da educação que recebemos durante centenas de anos, desde a Alta Idade Média. No princípio da cristandade, com a Patrística e o Maniqueísmo, procurou-se justificar Deus por meio da filosofia, tendo como principal ponto de apoio Platão. Mais tarde, depois da descoberta de Aristóteles pelos Árabes, e com o advento da Escolástica, a Igreja passou a justificar a filosofia com Deus, como sendo aquela uma causa deste.
Isto foi só um apontamento para reforçar a seu raciocínio.
Estou a pensar em propor para discussão outro tema que também acho muito interessante, só é pena não haver mais participantes tornava o debate mais vivo.
Um abraço. Augusto
Deus???
não conseguem ver??? Como não???
ele é cada um de vocês,
cada folha caída no chão,
cada fogueira acesa,
cada pequena gota que cai da goteira das vossas casas,
cada átomo e cada espaço entre eles...
...porquê então discutir ainda sobre o assunto???
Para quê tanta intelectualidade para falar de Deus???
Sintam apenas!!!
Não temos que ter um Deus, temos apenas que celebrar Deus em cada instante, em cada movimento...
...em cada um de nós!!!
Se alguém quer saber se Deus existe, prescinda de congeminações filosóficas, que dão para tudo,e cinja-se aos factos, para deles tirar as ilações.
Será que Ele se manifestou ?
Comece por folhear o Novo Testamento ( os quatro Evangelhos e os Actos dos Apóstolos ), independentemente da credibilidade que lhes queira atribuir. Leia, sobre essa credibilidade e, por exemplo, Vittorio Messori, "Hipóteses sobre Jesus"; ou Jean Guitton, "O Problema de Jesus"; ou a "Vida de Cristo", de Giuseppe Ricciotti (Casa do Castelo, Coimbra).
Veja,com espírito aberto, se essa coisa que considera impensável (os milagres) se verificaram ou não ao longo dos séculos ( por exemplo, estude, sem o preconceito absurdo das conspirações, os fenómenos de Fátima ). E faça, sobretudo, esta oração:
Senhor!- se existis, eu quero saber!
Porque quem não quer não encontra; e quem quer já o encontrou...
R.A.( advogado )
Participe
<< Início